Sentada ao redor da fogueira penso:
Como são lindos os estivais tapetes campestres.
O chilrear alegre dos pássaros.
Sol abrasador que nos aquece e ilumina.
Foi o verão!
Folhas amarelas que caem
Com a chegada do Outono.
Nevoeiro Madrugador
Que esconde o sol prateado.
E uma leve brisa,
Que de mansinho balanceia os meus cabelos.
Sentada ao redor da fogueira penso:
Como ficará a paisagem
Quando chegar o Inverno
Chuvas que caem sem cessar,
Árvores despidas,
Animais que fogem
Tentando sobreviver ao frio.
A serra coberta por um manto branco.
Tudo entenebrece!
E nessa altura,
Sentada ao redor da fogueira,
Anseio pelo florescer das árvores,
Pelo desabrochar das flores,
Lá ao longe as andorinhas regressam.
Aroma primaveril que se aproxima.
E com ele o meu novo despertar.
Imagem retirada da internet
Onde andas alma minha, que de ti não sei?
Viajei sem ti, para mundos esquecidos,
deixei-te neste caminho, de trilhos perdidos.
Onde andas alma minha, para onde te levei?
Uma viagem iniciei, deixando-te esquecida,
neste caminho, escolhido no acaso da vida.
Onde andas alma minha, que te perdi?
Deste caminho que escolhi,ou que me escolheu,
calcando pedra a pedra, até saber quem sou eu.
No retorno do caminho, espero encontrar-te,
algures nesta vida, que vivemos com arte.
Sonhei….
Estava perdido, era um local ermo e desconhecido, eu andava às voltas e gritava o teu nome e algures ouvia a tua voz. Fui andando seguindo o som das tuas palavras até que cheguei a um local donde havia um muro alto, tentei rodear, em breve estava no ponto de partida apesar de sentir que tinha andado em linha recta. Pouco a pouco e com as minhas mãos nuas comecei a derrubar o muro, pedra a pedra. Por momentos conseguia ver os teus olhos negros por entre o vazio que deixava alguma pedra que caia. Sei que falavas, era a tua voz, mas não eram as tuas palavras…
Cada vez que conseguia vislumbrar o brilho do negro dos teus olhos, como por arte de magia, o muro voltava à sua posição inicial, e eu ouvia a tua voz, sentia a tua presença… mas não eram as tua palavras… e voltava a derrubar o muro, pedra a pedra.
Agora estavas sentada em cima do muro, eu implorava que descesses, que falasses comigo, tu sorrias, os teus olhos brilhavam, mas não era o teu brilho, eu conseguia sentir a tua presença, mas não eras tu, e estavas ali tão próxima que sentia que se estendesse a mão te conseguia tocar, e ao mesmo tempo tão longe que simplesmente desistia de levantar a mão porque achava que nunca conseguiria lá chegar.
Agora o muro é um fosso escuro e profundo mas estreito o suficiente para te poder ver claramente , estás sentada do outro lado, sorridente e radiante, olhas para mim e finalmente vejo que não és tu, é só uma imagem de aquilo que me queres mostrar, não és tu porque na realidade falta a tua alma que decidiste esconder, longe, muito longe de mim e dos meus sentimentos. E eu não consigo derribar o muro que esconde o teu coração, e não consigo saltar o fosso que constróis lentamente dia a dia e que me separa do teu olhar, do brilho dos teus olhos negros, da luz do teu sorriso.
Sonhei ….
Jorge Soares
Eu gosto do Algarve fora de época e fora da confusão, naquele ano fomos acampar no mês de Abril para o parque de campismo da Praia da Luz, já lá vão uns dez anos, já não me lembro de muitos detalhes, sei que duas ou três noites terminei a dormir no chão, tínhamos um colchão de ar que teimava em esvaziar-se e foi uma complicação para o reparar... que nos bares da praia da luz não éramos lá muito bem vindos, falávamos português e os empregados olhavam de lado, um dia entramos num bar em Lagos e a empregada não falava português, só inglês! Fomos ao cinema... mas não me lembro do filme.
O parque de campismo era só para nós, que me lembre na maior parte dos dias éramos nós e algum casal de holandeses. Foi uma semana muito calma e relaxante.
Na semana seguinte voltei ao trabalho, na Quarta-feira a minha mãe ligou-me para o escritório, já era estranho ela estar-me a ligar para lá, mas pelo tom de voz, imaginei que algo estranho se estava a passar, a conversa foi mais ou menos assim:
-Jorge, tu conheces alguém no Algarve?
-Que eu saiba não, mas estive lá a semana passada.
-Estiveste donde?
-Estive na zona de Lagos.
-.....
-Então, o que é que se passa?
-Há... é que chegou uma carta para ti...e o código postal é de Lagos!
-Uma carta para mim?... humm , se calhar deixei lá alguma coisa...
Comecei a achar a historia absurda, mesmo que tivesse deixado lá alguma coisa, como é que eles iriam enviar uma carta para uma aldeia de Oliveira de Azeméis se eu moro em Setúbal?
-Sabes, é uma carta de uma mulher.... -diz a minha mãe.
-De uma mulher?, mas eu não dei a morada de aí a ninguém!
Aqui começou a fazer-se luz sobre o motivo da minha mãe me ligar para o emprego e não para casa...
Naquela altura no lugar donde moram os meus pais, as ruas não tinha nomes, e os carteiros entregavam as cartas pelos nomes das pessoas, e acreditem ou não, há mais dois Jorge Soares.......
-Isso de certeza que não é para mim, já perguntou se não é para nenhum dos outros fulanos que tem o meu nome?
-Já perguntei... e eles dizem que não conhecem ninguém no Algarve... e como tu lá estiveste... que é que eu faço?
-Bom, se não é para eles..... abra!
Ela abriu, e aqui a coisa piorou, era um postal daqueles mais que sugerentes e com palavras ainda piores, lá me explicou o que dizia.... fiquei sem palavras..... imaginei que alguém me estaria a fazer uma brincadeira ...a minha mãe não achou piada nenhuma e nem quero imaginar o que ficou a pensar. Passei o resto do dia a matutar quem sabia que eu tinha estado no Algarve e sabia a morada dos meus pais..e a verdade é que não consegui lembrar-me de ninguém.
Cheguei a casa e contei à P. que levou aquilo na brincadeira, a esta altura eu já não estava a achar piada, depois de muita conversa com a minha mãe, a carta foi para a lareira, a P. diz que não me volta a deixar ir à casa de banho do campismo...era os únicos momentos em que não estávamos juntos.
Passados uns 15 dias, um dos meus xarás apareceu de mansinho a perguntar pela carta. Cada vez que nos lembramos disto, a P.goza comigo e diz que quando vamos acampar, eu não posso ir sozinho lado nenhum... para depois não chegarem cartas.
Jorge
PS:Imagem retirada da internet..Algures no ano 1992 ou 93, estava eu na loja da Valentim de Carvalho no Rossio... acho que já não existe, e acercou-se a mim um jovem, teria mais ou menos a minha idade, tinha um alicate e arame de cobre na mão, enquanto falava ia moldando o arame. Disse o nome, e que era portador do HIV, falou-me do vírus, e das dificuldades que sentia, ele e os portadores da mesma doença, para poder viver na nossa sociedade.
No fim da nossa conversa, ele tinha moldado um quebra-cabeças de arame, e disse-me que era para mim, não custava nada, mas que agradecia se eu o pudesse ajudar com algum dinheiro, não era fácil a vida para ele, não conseguia arranjar emprego.
Eu era um estudante deslocado em Lisboa e sem muitas posses, ofereci-lhe 500 Escudos, e algumas palavras, para a média eu era uma pessoa informada sobre o assunto, disse-lhe isso e algumas outras coisas, lembro-me de no fim lhe ter apertado a mão e senti que ele ficou surpreendido, comovido, percebi que ele não estava à espera de aquele aperto de mão.
Ora isto foi em 1992 ou 93, na altura não existia a informação que existe agora, não sei o que terá acontecido com aquele ser humano, como não sei o que aconteceu com o quebra-cabeças de arame, de vez em quando lembro-me dele. Estamos em 2007, passou muito tempo, vivemos na era da informação, do google , todos deveríamos saber que é o HIV, infelizmente não é assim.
Este texto foi escrito em Novembro de 2007 e foi lido no programa Historia de vida da RDP, no dia 8 de março de 2008
Jorge Soares
PS:Imagem retirada da Internet.
Talvez a vida seja só uma ilusão...
e as estrelas não sejam mais que pontos brilhantes
num manto pintado de negro, ....
e as palavras não sejam mais que sussurros
do vento que passa triste,.....
e os sonhos sejam só historias que passam por nós
e não deixam mais que um aroma fresco a vida, ......
e talvez o amor não seja mais que uma flor
que nasceu um dia e nunca se apagará no meu coração.
15-02-1990
Jorge
PS:Imagem retirada da internet
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