Sexta-feira, 2 de Maio de 2008

A carta que nunca escrevi


(imagem retirada da internet)



Mergulho nas águas geladas com a determinação de não sentir mais o solo enxuto. Deixo para trás o verde da relva, os rostos que me são familiares, os vultos dos meus medos, o júbilo das minhas alegrias, o pranto das minhas tristezas.

Recordo-me da viagem interminável entre o penhasco e o destino final. O meu mísero e piedoso final! Naqueles escassos segundos revivi a minha curta existência. As frames que rodopiavam na minha cabeça – numa velocidade vertiginosa – eram de uma alegria gritante. Como é possível que 35 anos de vivência se resumissem em meros 17 segundos? Todavia, a tua presença sempre foi uma constante e eu era feliz.

Adorava perder-me nos teus braços… mas, sem eles perdi-me. Perdi-me e não quero voltar a encontrar-me. Onde quer que eu esteja, estou incompleta. Levaste a minha essência, a minha razão de ser e estar, lapidaste o brilho dos meus olhos, extorquiste o meu sorriso. Em troca deixaste-me a dor que me afaga o rosto quando me deito, a mágoa que impõe a sua lealdade durante o dia.

 Anuo que desperdicei as minhas forças, enquanto viva, a blasfemar sem razão. A ânsia do querer sempre mais, as minhas escaramuças diárias, os meus desejos caprichosos, o meu mundo patético… já não têm importância, nunca tiveram. Agora, neste meu último voo sem retorno, não são deles que me recordo. Mas, sim, da nossa história de amor.

Não consigo avançar neste trilho mundano sem ti. Desculpa-me, não consigo. A pessoa forte que tu conheceste, desapareceu. Por mais que me estendam a mão, a minha cobardia impede-me que eleve a minha.

O meu coração rasgado, tal como um trapo velho se tratasse, já não tem arranjo possível. Os remendos sobrepõem-se e já não sei com que linha o vou consertar. A linha da esperança é demasiada pequena para o remendo; a do luto tem demasiados nós; a da saudade desfaz-se com as minhas lágrimas e a linha das boas recordações quebra-se.

Todos os dias acordo, todos os dias desfaleço. Deixaste-me numa cama fria e partiste. A revolta que se instalou - na profundeza do meu ser - é inferior à vontade de eu ir ter contigo.

 

O meu corpo a ti confiei, a minha alma já a levaste contigo, agora ofereço-te o meu último suspiro.

 

Até já, meu amor!

PS. Obrigada, Jorge, pelo convite!! :))
sinto-me: a inventar
publicado por Mia às 21:02
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De complicadinha a 6 de Maio de 2008 às 11:09
Adorei!


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