Sábado, 24 de Maio de 2008

O perfume daquela rosa

 

Rosa

 

Tínhamos ido ao cinema, deviam ser umas 20 horas quando deixamos o autocarro na avenida e nos dispusemos a subir os trezentos metros da rua até a tua casa. Era uma rua estreita com casas antigas alinhadas de ambos os lados. Em algumas das casas havia um pequeno jardim entre o passeio e a porta de entrada, como tantas vezes, paramos em frente da casa da roseira.

 

O meu instinto apurado fez-me reparar nos dois homens que se dispunham a subir a rua pelo mesmo passeio donde estávamos, estavam longe, quase na avenida de donde vínhamos. Era a ultima vez que estávamos juntos, rapidamente me centrei naquela flor, uma rosa perfeita e com um aroma tão intenso que o podíamos sentir desde o passeio, subi ao muro e dispus-me a cortar a flor. Como de todas as outras vezes disseste que eu estava louco e quiseste deter-me, mas desta vez não te dei ouvidos, era a ultima vez que estávamos juntos e eu queria roubar aquela flor para ti.

 

Desci do muro, tentavas parecer chateada, ....... o brilho dos teus olhos ao receber a flor denunciou-te......de repente lembrei-me, os dois homens, quando me voltei para ver donde estavam,  correram.....e ouvimos aquele grito:

 

-Não se mexam!

 

Pela minha mente passaram muitas coisas, correr, gritar, de certeza que os vigiliantes do predio donde vivias nos ouviam se gritássemos, mas aquela arma apontada para nós foi muito mais forte que tudo isso.

 

-Não se mexam!....e dêem-nos tudo o que tenham!

 

Entreguei o meu relógio - Não tenho mais nada!

 

- A carteira, dá-me a carteira!, -gritou o outro homem.

 

Entreguei a minha carteira e quando ia dizer - Deixem-me os documentos Já eles tinha arrancado a correr em direcção ao bairro.

 

Era o último dia que estávamos juntos e ali estávamos os dois  a olhar para o sítio por donde eles tinham desaparecido, eu com ar de embasbacado e tu com um ar muito assustado e rosa esquecida na mão.

 

Quando finalmente te passou a impressão, desataste a falar, ....que a culpa era daquela rosa, que não devíamos ter parado para roubar a flor, que éramos um par de tontos e por isso aquilo tinha acontecido.........

 

A verdade é que dei por bem empregue o susto e o pouco que eles tinham levado, o brilho dos teus olhos ao receberes aquela flor valeu por tudo isso e muito mais.

 

No Sábado seguinte apanhei aquele avião e não nos voltamos a ver, 20 anos depois não me consigo lembrar de absolutamente nada dos assaltantes, mas consigo ver perfeitamente aquela flor, consigo recordar o seu aroma intenso, e nunca esquecerei o brilho dos teus olhos naquele momento.

 

Jorge

PS:texto publicado inicailmente no blog O que é o jantar

PS2:Imagem retirada da internet

publicado por Jorge Soares às 16:18
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Sexta-feira, 16 de Maio de 2008

Foi há um ano...

Incerteza


 

 

 

 Tanta coisa para dizer, tão pouco tempo para o fazer. Hoje tenho sono.... e só tu sabes porquê.... Não estou mais feliz hoje, que ontem, até pelo contrário, afinal, tudo acontece e nada também. A incerteza, de todas as coisas certas, deixa-me a cabeça á roda, sem saber que direcção tomar... Vou deixar-me levar com o vento, se o houver. Em caso de não haver, tudo vai parar, e eu irei esperar, que o vento venha para me guiar....

sinto-me: como se fosse hoje.
música: Alone - Hart
publicado por Dona das Chaves às 00:44
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Quinta-feira, 8 de Maio de 2008

Chuva .... O Amor

Chuva

Imagem retirada da internet 

 

Acordei, lá fora a chuva de verão cai com força, sinto o cheiro da terra molhada, aquele cheiro inconfundível que tem o condão de me transportar. Sem querer estou a voar até outros sítios, deixo-me ir. As minhas recordações terminam sempre por me levar até ti, o cheiro a terra molhada transporta-me até aquele outro dia de verão em que chovia e nos conhecemos.


Chovia, muito, as ruas tinham-se convertido em rios intransponíveis , fiquei parado ao fundo das arcadas daquela praça, indeciso entre chegar atrasado ou chegar encharcado, fui ficando, as pessoas passavam apressadas tentando em vão fugir da chuva, de repente dei por uma figura ao meu lado, olhei, por detrás de um sorriso estavam uns enormes olhos de um negro intenso. Retribui o sorriso e fiquei pasmado a olhar.


-Está a chover - disseste.

-Sim, parece que sim - disse, enquanto continuava a olhar para a profundidade dos teus olhos negros.

-Parece que estamos condenados a ficar aqui

-... -Eu continuava vidrado nos teus olhos, não conseguia pensar.. e muito menos dizer qualquer coisa com sentido.

- E se fossemos tomar um café?, há ali um café do outro lado das arcadas, não precisamos de nos molhar.

-Claro, vamos - disse.


Fomos, por horas esqueci o meu mundo à medida que ia entrando no teu, falaste de ti, das tuas coisas, dos teus amigos, de tudo um pouco. Quando dei por mim, tinha passado a tarde, algures no meio daquela cidade havia pessoas a perguntar por mim, assuntos por tratar, negócios por arrumar, esqueci tudo, o brilho dos teus olhos negros apagou por completo o resto do meu mundo, naquele dia, e por muitos mais.


Quando finalmente nos despedimos, há muito que a chuva tinha parado, e eu tinha caído irremediavelmente na teia tecida pelo brilho dos teus olhos e o calor do teu sorriso. Trocamos contactos e ficámos de nos voltar a ver, em breve disseste, sim, muito em breve.


Nessa noite demorei muito tempo a adormecer, os teus olhos invadiam o meu espaço, os meus sonhos, as minhas ilusões, o meu mundo. No dia a seguir a primeira coisa que fiz foi ligar-te, ficaste feliz. De novo chovia, combinámos encontrar-nos naquela mesma esquina, era para almoçar, mas no fundo, eu já sabia que o encontro não era contigo, o meu encontro era com os meus sonhos, era um encontro com a vida.


Hoje como naquele dia Chove.. e não preciso de voar, sinto o teu calor ao meu lado, dormes serenamente,.. eu sorrio, adoro chuva!

 

Texto publicado no blog O que é o jantar

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publicado por Jorge Soares às 08:27
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Terça-feira, 6 de Maio de 2008

Chora, meu menino, chora...


(imagem retirada da internet)




Chora, meu menino, chora!

Chora bem alto ou num só murmurinho, mas não chores sozinho.

Lava o teu rosto com lágrimas, devolve a paz ao teu fulgor

Nos dias inglórios desta batalha mais que perdida

Entrega as armas jovem guerreiro, anda, deita-te no meu colinho.

Chora, meu menino, chora!

Não escondas a tua mágoa, o teu suplício

A tua irra, o teu amor

Expulsa a traição que te escolta

Sara as chagas que te cegam

Ergue-te das cinzas e do pó, mas não o faças sozinho.

Meu filho, minha alegria.

Meus braços que te acalmaram no teu primeiro choro

Agora cansados e engelhados, anseiam por aquele abraço apertado

Seca as tuas lágrimas no meu regaço

Espera-te um afago de puro amor.

 

sinto-me: a inventar
publicado por Mia às 23:52
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Domingo, 4 de Maio de 2008

Viagem

                         VIAGEM

 

Lembro-me de ser criança,muito criança, e pensar:

Como seríamos felizes, se pudéssemos voar!
E contemplava as andorinhas, os pardais...
Como sonhava!...
 
Por essa altura achava que a possibilidade de vaguear sem destino e observar o mundo de  cima,
alheia ás guerras e aos interesses que o movem, me bastaria para ser feliz...
E ao mesmo tempo que apreciava muito a anarquia, gostava de fazer parte do mundo real.
 
Como era criança!...
 
Hoje, a uma distancia involuntária desses tempos, pergunto:
 
P'ra onde remei?
Onde fui parar?
que preciso para voltar a sonhar?
                
De olhar silencioso e distante, fixo na linha da praia, descubro que o mundo é um lugar bonito!
 
É o regresso da menina que mantive fechada, lá no fundo do meu passado...
Abandono-me à magia de imaginar,
que nada mais acontece em torno deste lugar...
 
E ninguém ousa invadir esta Paz,
esta noção de leveza,
a empatia que se instalou
entre mim e a Natureza...
 
                           Neste fim de tarde lindo!...
                       
                                                                                           L.P. Ass.
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publicado por Linda às 16:57
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Sexta-feira, 2 de Maio de 2008

A carta que nunca escrevi


(imagem retirada da internet)



Mergulho nas águas geladas com a determinação de não sentir mais o solo enxuto. Deixo para trás o verde da relva, os rostos que me são familiares, os vultos dos meus medos, o júbilo das minhas alegrias, o pranto das minhas tristezas.

Recordo-me da viagem interminável entre o penhasco e o destino final. O meu mísero e piedoso final! Naqueles escassos segundos revivi a minha curta existência. As frames que rodopiavam na minha cabeça – numa velocidade vertiginosa – eram de uma alegria gritante. Como é possível que 35 anos de vivência se resumissem em meros 17 segundos? Todavia, a tua presença sempre foi uma constante e eu era feliz.

Adorava perder-me nos teus braços… mas, sem eles perdi-me. Perdi-me e não quero voltar a encontrar-me. Onde quer que eu esteja, estou incompleta. Levaste a minha essência, a minha razão de ser e estar, lapidaste o brilho dos meus olhos, extorquiste o meu sorriso. Em troca deixaste-me a dor que me afaga o rosto quando me deito, a mágoa que impõe a sua lealdade durante o dia.

 Anuo que desperdicei as minhas forças, enquanto viva, a blasfemar sem razão. A ânsia do querer sempre mais, as minhas escaramuças diárias, os meus desejos caprichosos, o meu mundo patético… já não têm importância, nunca tiveram. Agora, neste meu último voo sem retorno, não são deles que me recordo. Mas, sim, da nossa história de amor.

Não consigo avançar neste trilho mundano sem ti. Desculpa-me, não consigo. A pessoa forte que tu conheceste, desapareceu. Por mais que me estendam a mão, a minha cobardia impede-me que eleve a minha.

O meu coração rasgado, tal como um trapo velho se tratasse, já não tem arranjo possível. Os remendos sobrepõem-se e já não sei com que linha o vou consertar. A linha da esperança é demasiada pequena para o remendo; a do luto tem demasiados nós; a da saudade desfaz-se com as minhas lágrimas e a linha das boas recordações quebra-se.

Todos os dias acordo, todos os dias desfaleço. Deixaste-me numa cama fria e partiste. A revolta que se instalou - na profundeza do meu ser - é inferior à vontade de eu ir ter contigo.

 

O meu corpo a ti confiei, a minha alma já a levaste contigo, agora ofereço-te o meu último suspiro.

 

Até já, meu amor!

PS. Obrigada, Jorge, pelo convite!! :))
sinto-me: a inventar
publicado por Mia às 21:02
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