Domingo, 31 de Agosto de 2008

A Morena

 

 

Zombeando pelos corredores,

A morena limpa

Os fantasmas da vida dos que ali passam.

 

Pra frente, pra trás,

Pra frente, pra trás, e a vida nunca pára.

Nem as memórias ali permanecem.

 

Hoje aqui, amanhã ali

Mas o labor é sempre igual:

Limpar memórias desnecessárias.

 

Segura a vassoura

Como num namoro fantasioso.

Imagina-se no baile da vida,

Dançando ritmos quentes

Que palavreiam a sua própria história.

 

É a noite escura

Que chama a Lua com seu brilho ofuscante,

E que a morena compara a si:

Também ela chama o sonho

Para lhe trazer as memórias

Das ilusões da sua vida de outrora.

 

sinto-me: fixe!
publicado por Miss Pepper às 17:33
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Terça-feira, 3 de Junho de 2008

Conto:Matar ou morrer por amor!

Africa


 

Escolher entre quem é capaz de matar e quem é capaz de morrer por amor

 

Aquele menino nasceu num dia de sol e calmaria, era o menino mais bonito que alguma vez tinha nascido, mais bonito que as flores que nasciam na Savana depois das primeiras chuvas, mais bonito que qualquer por do sol, mais bonito que uma noite estrelada. Era tal a sua beleza que  todos os chefes de todas as aldeias à volta o vieram conhecer.

O menino foi crescendo e com ele a sua educação e a sua valentia, além do mais belo de todos os meninos, era o mais inteligente, o mais valente e o mais atrevido.  E o povo da sua aldeia estava contente porque entre eles vivia a mais incrível das perfeições
.

Perto da casa do menino nasceram um dia duas meninas, e se a beleza dele era muita, a delas era ofuscante, se uma era a beleza do nascer do sol, a outra era a beleza do pôr do sol, se uma era linda e cristalina como a agua de um riacho, a outra era a beleza suave das aguas
calmas de um lago, não havia uma mais bonita que a outra, porque ambas tinham a beleza de cada flor, a perfeição do canto de cada pássaro e o brilho da luz de cada estrela.

E as meninas cresceram, cada uma na sua beleza, e à medida que iam crescendo iam adquirindo qualidades que faziam delas mulheres perfeitas e desejadas por todos.

Como em tudo na vida, a beleza atrai beleza e um dia as duas meninas já mulheres, conheceram o menino já homem, e ficaram ambas terrivelmente apaixonadas por ele. Se uma o amava muito a outra amava-o mais, se uma sonhava com ele de noite, a outra sonhava com ele de dia, se uma o desejava, a outra desejava a sua presença.

E ele?, ele estava num terrível dilema, tinha que escolher uma das duas, e tinha que decidir entre uma beleza tão grande como a beleza do nascer do sol e outra tão grande como a beleza do pôr do sol, entre a pureza cristalina da agua que corre no regato e a calma serena da superfície de um lago, entre a beleza de todas as flores e a perfeição do canto de todas as aves. E ele não se conseguia decidir, tinha que escolher uma das duas, mas não era capaz, como escolher entre a perfeição e a perfeição?.. não conseguia, mas  tinha que escolher, porque elas estavam à espera.

O tempo passava e ele não se conseguia decidir, e elas sonhavam e suspiravam, e imploravam.. mas ele não conseguia decidir. Até que um dia, estava sentado a pensar no seu dilema, quando de repente apareceu uma cobra e mordeu-o. Ao ouvir o seu grito de dor, toda a aldeia correu, e entre eles as duas meninas. Quando chegaram ele estava agonizante, e se uma se agarrou a ele a gritar e a dizer que ia morrer com ele, que estava disposta a morrer por amor, se ele morresse ela morria também. A outra decidiu ir atrás da cobra e vingar a sua dor, ela ia matar por amor.

Saiu da aldeia e embrenhou-se na savana, e durante dias seguiu o rasto, até que encontrou a cobra, e quando já lhe ia cortar a cabeça, esta disse:

-Não me mates.
-Mato, tu mataste o homem que eu amava, agora vais morrer
-Não, não me mates, se não me matares, eu prometo que faço com que tudo volte para trás e o teu amor não morre

E ambas voltaram à aldeia. Quando chegaram efectivamente o menino estava bem, estava sentado ao lado da outra mulher. E ambas perguntaram:

 

-Então, qual das duas escolhes?

-Não sei, como é que se pode escolher entre quem é capaz de  morrer  e quem é capaz de matar por amor?

 

 

 

Conto da tradição oral africana que ouvi contar de uma forma magistral...e decidi partilhar

 

Publicado inicialmente no blog: O que é o jantar

 

Jorge

PS:Imagem retirada da internet.

publicado por Jorge Soares às 10:11
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Sábado, 24 de Maio de 2008

O perfume daquela rosa

 

Rosa

 

Tínhamos ido ao cinema, deviam ser umas 20 horas quando deixamos o autocarro na avenida e nos dispusemos a subir os trezentos metros da rua até a tua casa. Era uma rua estreita com casas antigas alinhadas de ambos os lados. Em algumas das casas havia um pequeno jardim entre o passeio e a porta de entrada, como tantas vezes, paramos em frente da casa da roseira.

 

O meu instinto apurado fez-me reparar nos dois homens que se dispunham a subir a rua pelo mesmo passeio donde estávamos, estavam longe, quase na avenida de donde vínhamos. Era a ultima vez que estávamos juntos, rapidamente me centrei naquela flor, uma rosa perfeita e com um aroma tão intenso que o podíamos sentir desde o passeio, subi ao muro e dispus-me a cortar a flor. Como de todas as outras vezes disseste que eu estava louco e quiseste deter-me, mas desta vez não te dei ouvidos, era a ultima vez que estávamos juntos e eu queria roubar aquela flor para ti.

 

Desci do muro, tentavas parecer chateada, ....... o brilho dos teus olhos ao receber a flor denunciou-te......de repente lembrei-me, os dois homens, quando me voltei para ver donde estavam,  correram.....e ouvimos aquele grito:

 

-Não se mexam!

 

Pela minha mente passaram muitas coisas, correr, gritar, de certeza que os vigiliantes do predio donde vivias nos ouviam se gritássemos, mas aquela arma apontada para nós foi muito mais forte que tudo isso.

 

-Não se mexam!....e dêem-nos tudo o que tenham!

 

Entreguei o meu relógio - Não tenho mais nada!

 

- A carteira, dá-me a carteira!, -gritou o outro homem.

 

Entreguei a minha carteira e quando ia dizer - Deixem-me os documentos Já eles tinha arrancado a correr em direcção ao bairro.

 

Era o último dia que estávamos juntos e ali estávamos os dois  a olhar para o sítio por donde eles tinham desaparecido, eu com ar de embasbacado e tu com um ar muito assustado e rosa esquecida na mão.

 

Quando finalmente te passou a impressão, desataste a falar, ....que a culpa era daquela rosa, que não devíamos ter parado para roubar a flor, que éramos um par de tontos e por isso aquilo tinha acontecido.........

 

A verdade é que dei por bem empregue o susto e o pouco que eles tinham levado, o brilho dos teus olhos ao receberes aquela flor valeu por tudo isso e muito mais.

 

No Sábado seguinte apanhei aquele avião e não nos voltamos a ver, 20 anos depois não me consigo lembrar de absolutamente nada dos assaltantes, mas consigo ver perfeitamente aquela flor, consigo recordar o seu aroma intenso, e nunca esquecerei o brilho dos teus olhos naquele momento.

 

Jorge

PS:texto publicado inicailmente no blog O que é o jantar

PS2:Imagem retirada da internet

publicado por Jorge Soares às 16:18
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Sexta-feira, 16 de Maio de 2008

Foi há um ano...

Incerteza


 

 

 

 Tanta coisa para dizer, tão pouco tempo para o fazer. Hoje tenho sono.... e só tu sabes porquê.... Não estou mais feliz hoje, que ontem, até pelo contrário, afinal, tudo acontece e nada também. A incerteza, de todas as coisas certas, deixa-me a cabeça á roda, sem saber que direcção tomar... Vou deixar-me levar com o vento, se o houver. Em caso de não haver, tudo vai parar, e eu irei esperar, que o vento venha para me guiar....

sinto-me: como se fosse hoje.
música: Alone - Hart
publicado por Dona das Chaves às 00:44
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Quinta-feira, 8 de Maio de 2008

Chuva .... O Amor

Chuva

Imagem retirada da internet 

 

Acordei, lá fora a chuva de verão cai com força, sinto o cheiro da terra molhada, aquele cheiro inconfundível que tem o condão de me transportar. Sem querer estou a voar até outros sítios, deixo-me ir. As minhas recordações terminam sempre por me levar até ti, o cheiro a terra molhada transporta-me até aquele outro dia de verão em que chovia e nos conhecemos.


Chovia, muito, as ruas tinham-se convertido em rios intransponíveis , fiquei parado ao fundo das arcadas daquela praça, indeciso entre chegar atrasado ou chegar encharcado, fui ficando, as pessoas passavam apressadas tentando em vão fugir da chuva, de repente dei por uma figura ao meu lado, olhei, por detrás de um sorriso estavam uns enormes olhos de um negro intenso. Retribui o sorriso e fiquei pasmado a olhar.


-Está a chover - disseste.

-Sim, parece que sim - disse, enquanto continuava a olhar para a profundidade dos teus olhos negros.

-Parece que estamos condenados a ficar aqui

-... -Eu continuava vidrado nos teus olhos, não conseguia pensar.. e muito menos dizer qualquer coisa com sentido.

- E se fossemos tomar um café?, há ali um café do outro lado das arcadas, não precisamos de nos molhar.

-Claro, vamos - disse.


Fomos, por horas esqueci o meu mundo à medida que ia entrando no teu, falaste de ti, das tuas coisas, dos teus amigos, de tudo um pouco. Quando dei por mim, tinha passado a tarde, algures no meio daquela cidade havia pessoas a perguntar por mim, assuntos por tratar, negócios por arrumar, esqueci tudo, o brilho dos teus olhos negros apagou por completo o resto do meu mundo, naquele dia, e por muitos mais.


Quando finalmente nos despedimos, há muito que a chuva tinha parado, e eu tinha caído irremediavelmente na teia tecida pelo brilho dos teus olhos e o calor do teu sorriso. Trocamos contactos e ficámos de nos voltar a ver, em breve disseste, sim, muito em breve.


Nessa noite demorei muito tempo a adormecer, os teus olhos invadiam o meu espaço, os meus sonhos, as minhas ilusões, o meu mundo. No dia a seguir a primeira coisa que fiz foi ligar-te, ficaste feliz. De novo chovia, combinámos encontrar-nos naquela mesma esquina, era para almoçar, mas no fundo, eu já sabia que o encontro não era contigo, o meu encontro era com os meus sonhos, era um encontro com a vida.


Hoje como naquele dia Chove.. e não preciso de voar, sinto o teu calor ao meu lado, dormes serenamente,.. eu sorrio, adoro chuva!

 

Texto publicado no blog O que é o jantar

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publicado por Jorge Soares às 08:27
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Terça-feira, 6 de Maio de 2008

Chora, meu menino, chora...


(imagem retirada da internet)




Chora, meu menino, chora!

Chora bem alto ou num só murmurinho, mas não chores sozinho.

Lava o teu rosto com lágrimas, devolve a paz ao teu fulgor

Nos dias inglórios desta batalha mais que perdida

Entrega as armas jovem guerreiro, anda, deita-te no meu colinho.

Chora, meu menino, chora!

Não escondas a tua mágoa, o teu suplício

A tua irra, o teu amor

Expulsa a traição que te escolta

Sara as chagas que te cegam

Ergue-te das cinzas e do pó, mas não o faças sozinho.

Meu filho, minha alegria.

Meus braços que te acalmaram no teu primeiro choro

Agora cansados e engelhados, anseiam por aquele abraço apertado

Seca as tuas lágrimas no meu regaço

Espera-te um afago de puro amor.

 

sinto-me: a inventar
publicado por Mia às 23:52
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Domingo, 4 de Maio de 2008

Viagem

                         VIAGEM

 

Lembro-me de ser criança,muito criança, e pensar:

Como seríamos felizes, se pudéssemos voar!
E contemplava as andorinhas, os pardais...
Como sonhava!...
 
Por essa altura achava que a possibilidade de vaguear sem destino e observar o mundo de  cima,
alheia ás guerras e aos interesses que o movem, me bastaria para ser feliz...
E ao mesmo tempo que apreciava muito a anarquia, gostava de fazer parte do mundo real.
 
Como era criança!...
 
Hoje, a uma distancia involuntária desses tempos, pergunto:
 
P'ra onde remei?
Onde fui parar?
que preciso para voltar a sonhar?
                
De olhar silencioso e distante, fixo na linha da praia, descubro que o mundo é um lugar bonito!
 
É o regresso da menina que mantive fechada, lá no fundo do meu passado...
Abandono-me à magia de imaginar,
que nada mais acontece em torno deste lugar...
 
E ninguém ousa invadir esta Paz,
esta noção de leveza,
a empatia que se instalou
entre mim e a Natureza...
 
                           Neste fim de tarde lindo!...
                       
                                                                                           L.P. Ass.
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publicado por Linda às 16:57
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Sexta-feira, 2 de Maio de 2008

A carta que nunca escrevi


(imagem retirada da internet)



Mergulho nas águas geladas com a determinação de não sentir mais o solo enxuto. Deixo para trás o verde da relva, os rostos que me são familiares, os vultos dos meus medos, o júbilo das minhas alegrias, o pranto das minhas tristezas.

Recordo-me da viagem interminável entre o penhasco e o destino final. O meu mísero e piedoso final! Naqueles escassos segundos revivi a minha curta existência. As frames que rodopiavam na minha cabeça – numa velocidade vertiginosa – eram de uma alegria gritante. Como é possível que 35 anos de vivência se resumissem em meros 17 segundos? Todavia, a tua presença sempre foi uma constante e eu era feliz.

Adorava perder-me nos teus braços… mas, sem eles perdi-me. Perdi-me e não quero voltar a encontrar-me. Onde quer que eu esteja, estou incompleta. Levaste a minha essência, a minha razão de ser e estar, lapidaste o brilho dos meus olhos, extorquiste o meu sorriso. Em troca deixaste-me a dor que me afaga o rosto quando me deito, a mágoa que impõe a sua lealdade durante o dia.

 Anuo que desperdicei as minhas forças, enquanto viva, a blasfemar sem razão. A ânsia do querer sempre mais, as minhas escaramuças diárias, os meus desejos caprichosos, o meu mundo patético… já não têm importância, nunca tiveram. Agora, neste meu último voo sem retorno, não são deles que me recordo. Mas, sim, da nossa história de amor.

Não consigo avançar neste trilho mundano sem ti. Desculpa-me, não consigo. A pessoa forte que tu conheceste, desapareceu. Por mais que me estendam a mão, a minha cobardia impede-me que eleve a minha.

O meu coração rasgado, tal como um trapo velho se tratasse, já não tem arranjo possível. Os remendos sobrepõem-se e já não sei com que linha o vou consertar. A linha da esperança é demasiada pequena para o remendo; a do luto tem demasiados nós; a da saudade desfaz-se com as minhas lágrimas e a linha das boas recordações quebra-se.

Todos os dias acordo, todos os dias desfaleço. Deixaste-me numa cama fria e partiste. A revolta que se instalou - na profundeza do meu ser - é inferior à vontade de eu ir ter contigo.

 

O meu corpo a ti confiei, a minha alma já a levaste contigo, agora ofereço-te o meu último suspiro.

 

Até já, meu amor!

PS. Obrigada, Jorge, pelo convite!! :))
sinto-me: a inventar
publicado por Mia às 21:02
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Quarta-feira, 30 de Abril de 2008

...

Sentada ao redor da fogueira penso:

 

Como são lindos os estivais tapetes campestres.

O chilrear alegre dos pássaros.

Sol abrasador que nos aquece e ilumina.

Foi o verão!

 

Folhas amarelas que caem

Com a chegada do Outono.

Nevoeiro Madrugador

Que esconde o sol prateado.

E uma leve brisa,

Que de mansinho balanceia os meus cabelos.

 

 Sentada ao redor da fogueira penso:

 

Como ficará a paisagem

Quando chegar o Inverno

Chuvas que caem sem cessar,

Árvores despidas,

Animais que fogem

Tentando sobreviver ao frio.

A serra coberta por um manto branco.

Tudo entenebrece!

 

E nessa altura,

Sentada ao redor da fogueira,

Anseio pelo florescer das árvores,

Pelo desabrochar das flores,

Lá ao longe as andorinhas regressam.

Aroma primaveril que se aproxima.

E com ele o meu novo despertar.

publicado por Sofia às 23:58
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Segunda-feira, 28 de Abril de 2008

Alma minha

 Imagem retirada da internet

 

 

 Onde andas alma minha, que de ti não sei?

Viajei sem ti, para mundos esquecidos,

deixei-te neste caminho, de trilhos perdidos.

Onde andas alma minha, para onde te levei?

Uma viagem iniciei, deixando-te esquecida,

neste caminho, escolhido no acaso da vida.

Onde andas alma minha, que te perdi?

Deste caminho que escolhi,ou que me escolheu,

calcando pedra a pedra, até saber quem sou eu.

No retorno do caminho, espero encontrar-te,

algures nesta vida, que vivemos com arte.

 

música: Over The Hills And Far Away - Nightwish
sinto-me: algures
publicado por Dona das Chaves às 23:41
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Quarta-feira, 23 de Abril de 2008

Sonhei ....

Sonhos

 

Sonhei….

 

Estava perdido, era um local ermo e desconhecido, eu andava às voltas e gritava o teu nome e algures ouvia a tua voz. Fui andando seguindo o som das tuas palavras até que cheguei a um local donde  havia um muro alto,  tentei rodear, em breve estava no ponto de partida apesar de sentir que tinha andado em linha recta. Pouco a pouco e com as minhas mãos nuas comecei a derrubar o muro, pedra a pedra. Por momentos conseguia ver os teus olhos negros por entre o vazio que deixava alguma pedra que caia.  Sei que falavas,  era a tua voz, mas não eram as tuas palavras…

 

Cada vez que conseguia vislumbrar o brilho do negro dos teus olhos, como por arte de magia, o muro voltava à sua posição inicial, e eu ouvia a tua voz, sentia a tua presença… mas não eram as tua palavras… e voltava a derrubar o muro, pedra a pedra.

 

Agora estavas sentada em cima do muro, eu implorava que descesses, que falasses comigo, tu sorrias, os teus olhos brilhavam, mas não era o teu brilho, eu conseguia sentir a tua presença, mas não eras tu, e estavas ali tão próxima que sentia que se estendesse a mão te conseguia tocar, e ao mesmo tempo tão longe que simplesmente desistia de levantar a mão porque achava que nunca conseguiria lá chegar.

 

Agora o muro é um fosso escuro e profundo mas estreito o suficiente para te poder ver  claramente , estás sentada do outro lado, sorridente e radiante, olhas para mim e finalmente vejo que não és tu, é só uma imagem de aquilo que me queres mostrar, não és tu porque na realidade falta a tua alma que decidiste esconder, longe, muito longe de mim e dos meus sentimentos.  E eu não consigo derribar o muro que esconde o teu coração, e não consigo saltar o fosso que constróis lentamente dia a dia e que me separa do teu olhar, do brilho dos teus olhos negros, da luz do teu sorriso.

 

Sonhei ….

Jorge Soares

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publicado por Jorge Soares às 11:56
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Sábado, 19 de Abril de 2008

Saudades de mim

Saudade

Devia ser uma sexta à tarde porque estávamos sentados na relva, discutíamos de tudo, desde politica à musica de moda, por vezes cantávamos , havia sempre vários litros de sumo de maracujá e/ou laranja, e rum, vodka, anis.... eram as nossas sextas-feiras, unia-nos a amizade, muita cumplicidade e o gosto pela convivência. O local era La Tierra de Nadie , um enorme relvado com arvores e palmeiras, na orla da Faculdade de Ciências, entre a avenida e este jardim havia um campo de beisbol .

Era uma sexta Feira como outra qualquer, estava El Loco Miguel, mi hermano El Gordito Hector , El Arabe Kamil , Manolo el gallego, La loca Elsa , la gordita Peggy, Dulce.. . Na avenida, como tantas outras vezes havia distúrbios , um grupo de encapuçados saiu sorrateiramente da universidade e estava a queimar um autocarro. Nós bebíamos e sorriamos, nada do que se passava lá fora era connosco, e aquilo era tão habitual.... chegou a policia e perseguiu os encapuçados que procuraram refugio na universidade donde a policia não entrava...coisas de autonomias universitárias.

De repente sentimos um assobio, alguém sorria, a Peggy dava uma das suas gargalhadas..não deve ter ouvido, os restantes ficamos em silêncio, olhamos uns para os outros incrédulos , sem reacção , a Peggy perguntou "Que paso ?, que les pasa ?"

Aquela bala tinha passado pelo meio do grupo, talvez uns centímetros à direita ou à esquerda e eu, ou um dos outros, não voltaríamos a sorrir, e a falar de politica, ou a cantar as ultimas musicas de moda.

Às vezes tenho saudades de mim, saudades das pessoas de quem gosto, saudades dos amigos, por vezes tenho pressa em dizer as coisas, em fazer ver o quanto gosto de alguém, porque a sorte não bate duas vezes à mesma porta e depois...depois é tarde.

Jorge
PS:Continua dedicado a ti :-)
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publicado por Jorge Soares às 00:38
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Terça-feira, 15 de Abril de 2008

A carta

Envelope


Eu gosto do Algarve fora de época e fora da confusão, naquele ano fomos acampar no mês de Abril para o parque de campismo da Praia da Luz, já lá vão uns dez anos, já não me lembro de muitos detalhes, sei que duas ou três noites terminei a dormir no chão, tínhamos um colchão de ar que teimava em esvaziar-se e foi uma complicação para o reparar... que nos bares da praia da luz não éramos lá muito bem vindos, falávamos português e os empregados olhavam de lado, um dia entramos num bar em Lagos e a empregada não falava português, só inglês! Fomos ao cinema... mas não me lembro do filme.

 

O parque de campismo era só para nós, que me lembre na maior parte dos dias éramos nós e algum casal de holandeses. Foi uma semana muito calma e relaxante.

 

Na semana seguinte voltei ao trabalho, na Quarta-feira a minha mãe ligou-me para o escritório, já era estranho ela estar-me a ligar para lá, mas pelo tom de voz, imaginei que algo estranho se estava a passar, a conversa foi mais ou menos assim:

 

-Jorge, tu conheces alguém no Algarve?

-Que eu saiba não, mas estive lá a semana passada.

-Estiveste donde?

-Estive na zona de Lagos.

-.....

-Então, o que é que se passa?

-Há... é que chegou uma carta para ti...e o código postal é de Lagos!

-Uma carta para mim?... humm , se calhar deixei lá alguma coisa...

 

Comecei a achar a historia absurda, mesmo que tivesse deixado lá alguma coisa, como é que eles iriam enviar uma carta para uma aldeia de Oliveira de Azeméis se eu moro em Setúbal?

 

-Sabes, é uma carta de uma mulher.... -diz a minha mãe.

-De uma mulher?, mas eu não dei a morada de aí a ninguém!

 

Aqui começou a fazer-se luz sobre o motivo da minha mãe me ligar para o emprego e não para casa...

 

Naquela altura no lugar donde moram os meus pais, as ruas não tinha nomes, e os carteiros entregavam as cartas pelos nomes das pessoas, e acreditem ou não, há mais dois Jorge Soares.......

 

-Isso de certeza que não é para mim, já perguntou se não é para nenhum dos outros fulanos que tem o meu nome?

-Já perguntei... e eles dizem que não conhecem ninguém no Algarve... e como tu lá estiveste... que é que eu faço?

-Bom, se não é para eles..... abra!

 

Ela abriu, e aqui a coisa piorou, era um postal daqueles mais que sugerentes e com palavras ainda piores, lá me explicou o que dizia.... fiquei sem palavras..... imaginei que alguém me estaria a fazer uma brincadeira ...a minha mãe não achou piada nenhuma e nem quero imaginar o que ficou a pensar. Passei o resto do dia a matutar quem sabia que eu tinha estado no Algarve e sabia a morada dos meus pais..e a verdade é que não consegui lembrar-me de ninguém.

 

Cheguei a casa e contei à P.  que levou aquilo na brincadeira, a esta altura eu já não estava a achar piada, depois de muita conversa com a minha mãe, a carta foi para a lareira, a P. diz que não me volta a deixar ir à casa de banho do campismo...era os únicos momentos em que não estávamos juntos.

 

Passados uns 15 dias, um dos meus xarás apareceu de mansinho a perguntar pela carta. Cada vez que nos lembramos disto, a P.goza comigo e diz que quando vamos acampar, eu não posso ir sozinho lado nenhum... para depois não chegarem cartas.

 

Jorge

PS:Imagem retirada da internet..
PS2:texto publicado a inicialmente no blog O que é o jantar
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publicado por Jorge Soares às 21:43
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Domingo, 13 de Abril de 2008

O quebra cabeças de arame, ou, a vida dificil dos portadores de HIV



Algures no ano 1992 ou 93, estava eu na loja da Valentim de Carvalho no Rossio... acho que já não existe, e acercou-se a mim um jovem, teria mais ou menos a minha idade, tinha um alicate e arame de cobre na mão, enquanto falava ia moldando o arame. Disse o nome, e que era portador do HIV, falou-me do vírus, e das dificuldades que sentia, ele e os portadores da mesma doença, para poder viver na nossa sociedade.


No fim da nossa conversa, ele tinha moldado um quebra-cabeças de arame, e disse-me que era para mim, não custava nada, mas que agradecia se eu o pudesse ajudar com algum dinheiro, não era fácil a vida para ele, não conseguia arranjar emprego.


Eu era um estudante deslocado em Lisboa e sem muitas posses, ofereci-lhe 500 Escudos, e algumas palavras, para a média eu era uma pessoa informada sobre o assunto, disse-lhe isso e algumas outras coisas, lembro-me de no fim lhe ter apertado a mão e senti que ele ficou surpreendido, comovido, percebi que ele não estava à espera de aquele aperto de mão.


Ora isto foi em 1992 ou 93, na altura não existia a informação que existe agora, não sei o que terá acontecido com aquele ser humano, como não sei o que aconteceu com o quebra-cabeças de arame, de vez em quando lembro-me dele. Estamos em 2007, passou muito tempo, vivemos na era da informação, do google , todos deveríamos saber que é o HIV, infelizmente não é assim.


 

Este texto foi escrito em Novembro de 2007 e foi lido no programa Historia de vida da RDP, no dia 8 de março de 2008


Jorge Soares

PS:Imagem retirada da Internet.

publicado por Jorge Soares às 20:41
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Ilusões



Talvez a vida seja só uma ilusão...


e as estrelas não sejam mais que pontos brilhantes

num manto pintado de negro, ....


e as palavras não sejam mais que sussurros

do vento que passa triste,.....


e os sonhos sejam só historias que passam por nós

 e não deixam mais que um aroma fresco a vida, ......


e talvez o amor não seja mais que uma flor

que nasceu um dia e nunca se apagará no meu coração.


 

15-02-1990

Jorge

PS:Imagem retirada da internet

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publicado por Jorge Soares às 11:54
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